12 julho 2010

ePORTEFÓLIO: PORTEFÓLIOS ELECTRÓNICOS

“Port quê?”
As orientações para a introdução das TIC nas ACND do 8º ano são bem explícitas recomendando que estas sejam utilizadas na construção do portfólio electrónico do aluno. O colega, que é professor desta área curricular levantará todo um conjunto de interrogações que confluem em duas simples questões – Como é que o vou fazer? Como é que o vou fazer bem?
Sendo as questões simples, as respostas serão bastante mais complicadas, já que não se trata apenas de escolher a plataforma informática (Moodle, Joomla, FrontPage, Blog…) adequada. Qualquer que seja a solução encontrada para o modelo de portfólio, quer seja para os alunos da nossa turma, da nossa escola ou do nosso país, haverá sempre fragilidades e pontos de crítica. E tudo isto porque cada um de nós tem a sua ideia de portfólio. Este espaço é para a discutirmos.
A multiplicidade das questões, a complexidade das respostas e a subjectividade do conceito não nos deverão paralisar. Este ano não irá construir com os seus alunos o melhor portfólio do mundo, mas irá participar num processo inovador e, estamos certos, muito compensador profissionalmente. Encaremos este espaço como uma comunidade de prática em que nos apoiaremos mutuamente.
Para já gostaria de contribuir para a discussão com extractos de dois artigos que publiquei no meu blog já lá vão dois anos. Estou certo que se mantêm actuais e que podem servir de pontapé de saída para a discussão que se segue no Fórum “Port quê?”

17.8.05
Os ePortfolios
Uma das metas para 2010 do programa Ligar Portugal integrado no Plano Tecnológico do Governo é " a generalização do dossier individual electrónico (portfolio) do estudante que termina a escolaridade obrigatória, onde se registarão todos os seus trabalhos mais relevantes, se comprovarão as práticas relevantes adquiridas nos diferentes domínios (artístico, científico, tecnológico, desportivo e outros) e se demonstrará o uso efectivo das tecnologias de informação e comunicação nas diversas disciplinas escolares".Existem vários exemplos de implementação de ePortfolios (portfolios digitais). Alguns estão ligados a projectos de validação de competências específicas (línguas, TIC), outros são específicos de determinadas instituições (geralmente escolas do ensino superior ou profissionais), outros ainda reflectem a aprendizagem de cada cidadão ao longo da vida e ainda outros não têm por objecto de avaliação os alunos mas sim as suas escolas e professores.Detenhamo-nos no ePortfolio ora proposto e analisemos o seu primeiro "caderno de encargos". Os dados de partida serão, pois, os seguintes:a) Será um documento individual e electrónicob) Circunscrever-se-á à carreira escolar obrigatória do aluno (presentemente até ao 9º ano)c) Conterá produtos da sua aprendizagem (não todos mas os mais relevantes)d) As práticas mais relevantes serão comprovadas.e) Será demonstrada a utilização efectiva das TIC por parte do alunoDesde já se constata que terão de ser tomadas decisões quanto aos produtos a incluir, ao processo de comprovação e validação das práticas e à forma como se demonstrará a utilização das TIC pelo aluno. Mas estas são decisões de somenos quando comparadas com outras de teor mais estrutural - será somente um instrumento de demonstração externa das "provas" de aprendizagem do aluno ou pretende-se que sirva também para a sua auto-avaliação formativa? Qual o papel reservado ao portfolio na interacção professor/pais/colegas/aluno? Qual o papel do aluno na gestão do seu portfolio?A concretização desta meta não pode se restringir, pois, à simples produção da peça de software adequada ao objectivo. Todo um conjunto de questões de ordem pedagógica, social e organizativa a condicionam e desde já a configuram como sendo de grande complexidade. Contudo esta complexidade constituirá não um impedimento mas sim um incentivo para que em 2010 todos os alunos do ensino obrigatório tenham o seu portfolio. E, porque não, os outros também?


26.8.05
Ainda a propósito dos ePortfolios
O Europortfolio é um consórcio que tem por objectivo que todo o cidadão europeu seja portador de um ePortfolio em 2010. Num dos mais interessantes documentos por si produzidos tenta listar de forma quase exaustiva os grandes problemas que terão de ser tidos em conta na concretização deste projecto, levantando questões de ordem tão diversa como as relacionadas com o ensino e a aprendizagem, os aspectos de segurança e éticos, o seu enquadramento no sistema de ensino e nas instituições, os problemas de natureza técnica e de mercado.Eis aqui algumas destas questões:Tipos e modelos de ePortfoliosQue diferenças e semelhanças existirão entre os ePortfolios utilizados na escola, na universidade e no trabalho?Será uma mera extensão do CV ou deverá ser uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e de gestão do conhecimento?Ensino e aprendizagemQue estratégias curriculares deverão estar subjacentes ao uso dos ePortfolios?Qual o impacto do formato dos ePortfolios (normalizado ou livre) nos próprios produtos da aprendizagem?De que maneira os ePortfolios podem contribuir para a avaliação formativa e somativa?Como terão em conta os ePorfolios os diversos estilos de aprendizagem?Sistema de EnsinoQuais são os valores e os objectivos finais da implementação do ePortfolio?Os ePorfolios destinam-se somente a substituir o papel ou serão um instrumento de mudança das políticas de ensino e de avaliação?Quais são as implicações das passagem de registos baseados nas diversas instituições para registos centrados no cidadão e na sua aprendizagem ao longo da vida?InstituiçõesQue medidas (financeiras, organizativas e técnicas) deverão ser tomadas para a sustentação e manutenção a longo prazo de processo?Como será a iniciativa implementada nas instituições e como se fará a sua avaliação?
Atendendo a que as instituições, tais como as pessoas, poderão ter os seus próprios ePortfolios como é que estes poderão contribuir para a sua aprendizagem?
Aspectos técnicosComo pode o indivíduo manter o mesmo portfolio ao longo da vida passando por diversas escolas, empregos e até países?
Que tecnologias deverão utilizadas? Como se conjugarão com os sistemas CMS (Course Management Systems), LMS (Learning Management Systems), HRIS (Human Resouce Management Systems) e ERP (Enterprise Resource Planning) já existentes e em utilização?
O ePortfolio deverá ter como suporte um CD, deverá residir nuim servidor ou em vários computadores p2p( peer to peer)?
A que standards deverá obedecer de modo a garantir a sua utilização universal?

Mercado
Como é que os editores e produtores de sistemas e recursos educativos podem assegurar que os seus produtos se adaptam ao ePortfolio?
Como é que os clientes desses produtos têm a garantia dessa conformidade?

Claro está que algumas destas questões ultrapassam o âmbito da medida do programa Ligar Portugal que visa "apenas" atribuir um ePorfolio aos alunos do ensino obrigatório. Contudo seria importante que pensássemos desde já num portofolio que registasse os aspectos mais relevantes da vida académica e profissional dos portugueses. É este o momento exacto.

Bibliografia sobre portefolios

Sobre Portfolio

Bernardes, C., & Miranda, F. B. (2003). Portefolio. Uma Escola de Competências. Porto: Porto Editora.
Coelho, C., Campos, J., (2003). O Portfolio na sala de Aula. Areal Editores
Murphy, S., & Smith, M. A. (1991). Writing Portfolios. A Bridge from Teaching to Assessment. Ontario: Pippin Publishing.
Nunes, J. (1999). PORTFOLIO: Uma nova forma de encarar a avaliação?! Disponível em http://www.terravista.pt/Nazare/4420
Nunes, J. (2000). O professor e a avaliação reflexiva – portfolio. Asa Editores
Pinto, Jorge; Santos, Leonor (2006) - “A Avaliação numa Perspectiva Formativa”, in Modelos de Avaliação das Aprendizagens. Lisboa: Universidade Aberta
Pinto, Jorge; Santos Leonor (2006) - “Instrumentos de Avaliação ao Serviço da Aprendizagem”, in Modelos de Avaliação das Aprendizagens. Lisboa: Universidade Aberta.
Sá-Chaves, Idália (Org.) (2005). Os "portfolios" reflexivos (também) trazem gente dentro. Porto: Porto Editora
Sá-Chaves, Idália (2000). Portfolios reflexivos: Estratégia de formação e supervisão. Universidade de Aveiro: UIDTFF

Distinção entre Dossiê e portefolio

O Portefolio
· O portefolio dá conta do percurso de aquisição de competências do aluno

· Os elementos a inserir são escolhidos em função das metas estipuladas

· Os elementos são escolhidos de acordo com critérios predeterminados e acordados entre alunos e o professor

· Os elementos escolhidos representam, de forma clara, as competências adquiridas pelo aluno.

· Os elementos são escolhidos de forma regular, a partir de situações significativas de aprendizagem e avaliação.

· Os trabalhos escolhidos, contêm comentários dos professores, dos alunos e/ou encarregados de educação.

· O aluno faz reflexões e estabelece objectivos e estratégias.

· Os elementos escolhidos são sempre datados.

· Há uma ligação entre os diferentes trabalhos. A reflexão sobre desafios estabelecidos é obrigatória.

· O portefólio é um documento de avaliação em constante reformulação.

· O aluno guarda o seu portefólio e é responsável por ele, podendo servir-se dele ao longo de todo o ciclo de aprendizagem.

O dossiê
(compilação tradicional de trabalhos)
· Os trabalhos não representam o percurso do aluno.

· Os trabalhos nem sempre são escolhidos em função das metas estipuladas.

· Os alunos não conhecem critérios de selecção, ou então, só os fazem corresponder aos melhores trabalhos

· Os elementos escolhidos não são necessariamente representativos das competências dos alunos.

· Os elementos são compilados de modo esporádico e não continuo.

· Em geral, os trabalhos não contêm comentários pessoais nem do aluno, nem dos colegas, nem dos encarregados de educação.

· O aluno não faz reflexões nem estabelece objectivos, desafios ou estratégias para a sua própria aprendizagem.

· Os trabalhos raramente são datados.

· Não há uma ligação entre os diferentes trabalhos.

· O dossiê é um arquivo morto.

· O professor e/ou a escola podem guardar o dossiê que, rapidamente, menos prezam e/ou esquecem.
·

Algumas ideias gerais sobre portefolio

Algumas generalidades sobre portfolios

O termo portfolio tem a sua origem no meio artístico referindo-se a uma colecção de produções que de alguma forma reflectem ou traduzem um percurso. Actualmente este conceito extravasou o mundo das artes e tem múltiplas aplicações.

Em educação os portfolios assumem frequentemente duas vertentes: a de aprendizagem e a de avaliação. Sem perder de vista que um portfólio de avaliação também o é de aprendizagem, pois o que se pretende é avaliar as aprendizagens efectuadas pelos alunos não só em termos de produtos mas também de processos

Podemos ver o portfolio de aprendizagem como uma colecção significativa dos trabalhos que o aluno vai produzindo e que ilustra os seus esforços, os seus progressos e as suas realizações em diferentes domínios e que não dispensa uma componente reflexiva explícita. Assim, do portfolio do aluno devem fazer parte as suas reflexões sobre os esforços que desenvolve, os objectivos que define para si próprio, as estratégias que se propõe para os alcançar …

Os elementos coligidos num portfolio devem ser datados, ilustrativos de um percurso que se torna evidente não apenas pela ordem cronológica dos trabalhos eleitos mas também pela reflexão que permite estabelecer ligações entre eles.

O professor tem um papel fundamental na construção do Portfolio na medida em que monitoriza a escolha dos produtos mais relevantes, os seus feedbacks constituem elementos importantes para a reflexão do aluno e tem uma palavra a dizer no estabelecimento de novos objectivos bem como na definição do percurso de aprendizagem.

Que objectivos para o Portfolio?
Pode identificar-se como grande objectivo para a construção do portfolio suportar a reflexão que pode ajudar os estudantes a entenderem a sua própria aprendizagem e proporcionar um enquadramento ao trabalho que permite documentar o seu crescimento ao longo do tempo.

Este grande objectivo pode ser “desdobrado” noutros:
­ Identificar aprendizagens
­ Documentar aprendizagens
­ Ajudar na estruturação da aprendizagem
­ Identificar o que ainda há para aprender
­ Desenvolver estratégias de aprendizagem
­ Partilhar: tornar conhecido o que é aprendido, para que os outros possam usar
­ Aprender com os outros
­ …


O que incluir num Portfolio?
Os elementos eleitos para constar de um portfolio devem sempre ser escolhidos em função dos objectivos da aprendizagem e reflectir critérios previamente negociados com os alunos. Assim, podem ter sentido:
­ Evidências das diferentes produções
­ fichas de trabalho,
­ esquemas,
­ fichas de leitura,
­ fichas de pesquisa,
­ registos de fontes de informação consultadas,
­ reflexões sobre o trabalho desenvolvido,
­ planos de trabalho futuro, reformulações de trabalhos anteriores,
­ balanços de actividades realizadas,
­ autoavaliações,
­ listas de actividades,
­ comentários pessoais sobre a turma ou a escola,
­ comentários de pessoas relevantes para o percurso de aprendizagem
­ …